terça-feira, 27 de outubro de 2009

Exército Israelense rouba orgãos do povo palestino.

Fuente: Alison Weir, Tlaxcala (Traducido por Laura Boué, Carlos Sanchís y Ana Atienza- Edición de Ana Atienza)


Na semana passada, o principal jornal da Suécia publicou um artigo com material surpreendente que incluía testemunhos e provas circunstanciais, segundo os quais os israelenses podem estar extraindo órgãos internos de prisioneiros palestinos sem o seu consentimento durante muitos anos.
No entanto, pior ainda é o fato de que parte da informação que o artigo contém sugere que, em certas ocasiões, pode-se ter capturado palestinos com este macabro propósito.

No artigo Roubam nossos filhos para tirar os seus órgãos, o veterano jornalista Donald Boström escreve que os palestinos “reúnem fortes suspeitas contra Israel por capturar jovens e utilizá-los como reserva de órgãos do país, uma acusação muito grave, com suficientes interrogantes para instar o Tribunal Penal Internacional (TPI) a abrir uma investigação sobre possíveis crimes de guerra”1.
Isto desencadeou uma forte reação imediata por parte de uma avalanche de autoridades e defensores de Israel, qualificando tanto Boström como os editores do jornal de “anti-semitas”. O ministro israelense de assuntos exteriores se mostrou “horrorizado” e tachou de “demonização mediante calúnia de sangue”. Uma autoridade israelense, inclusive, denominou de “pornografia do ódio”.
Para a revista “Commentary”, esta história não era “mais que a ponta do iceberg a respeito do ódio contra Israel financiado e fomentado pela Europa”. Muitos compararam o artigo com a “calúnia de sangue” medieval (histórias amplamente rebatidas sobre supostos assassinatos cometidos por judeus para usar o sangue em rituais religiosos). Alguns escritores pró-palestinos, inclusive, se uniram às críticas mostrando seu ceticismo.

No entanto, o caso é que durante muitos anos foram apresentadas prova substanciais de roubo e tráfico público e privado de órgãos, assim como indícios de algo pior. Neste contexto, as acusações suecas adquirem muito maior credibilidade do previsto, e sugerem que uma investigação poderia revelar informação significativa.

Vejamos alguns exemplos de notícias anteriores sobre o tema.
O primeiro transplante de coração de Israel
No primeiro transplante de coração feito na história de Israel utilizou-se o coração de um paciente vivo sem seu consentimento e sem consultar sua família.
Em dezembro de 1968, um homem chamado Avraham Sadegat (parece que o New York Times o mencionou como A. Savgat)2 morreu dois dias depois de sofrer uma apoplexia, apesar de terem dito a sua família que “ia bem”.
Apesar de sua negativa inicial, o hospital israelense onde estava sendo tratado finalmente entregou o corpo do falecido a sua família. Então descobriram que tinha o tronco vendado; algo estranho, pensaram, para alguém que havia sofrido uma apoplexia.
Quando retiraram a bandagem, descobriram que haviam enchido a caixa torácica com vendas e que faltava o coração.
Foi por aquela época que se realizou o célebre primeiro transplante israelense de coração. Após seu espanto inicial, a esposa e o irmão do falecido começaram a associar os dois fatos e a exigir respostas.
A principio, o hospital negou que o coração de Sadegat tivesse sido utilizado no famoso transplante, porém a família levantou um rebuliço midiático e, inclusive, recorreu a três ministros do gabinete. Algumas semanas depois, e depois da família haver assinado um documento no qual prometia não ir aos tribunais, o hospital admitiu que havia utilizado o coração de Sadegat.
O hospital explicou que havia cumprido com a legislação israelense, segundo a qual se podia extrair órgãos sem o consentimento da família3. (A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Internacional inclui a extração de órgãos em sua definição de exploração humana).
Não foram investigados os indícios de que a remoção do coração de Sadegat foi a causa real de sua morte.
Declarações de um diretor de medicina legista sobre a ausência de órgãos

Um artigo de Mary Barrett publicado em 1990 no Washington Report on Middle East Affairs intitulado “Autopsies and executions” (Autópsias e execuções) fala sobre assassinatos absurdos cometidos contra jovens palestinos. O mencionado relatório inclui uma entrevista com o Dr. Hatem Abu Ghazaleh, que foi a máxima autoridade da saúde da Cisjordânia sob a administração jordana e diretor de medicina legista e autópsias.
Barrett lhe perguntou sobre “a ampla preocupação pelo roubo de órgãos que tem atormentado Gaza e Cisjordânia desde que começou a Intifada em dezembro de 1987” .
Eis aqui sua resposta:
“Existem indícios de que durante o primeiro ano ou ano e meio, por uma razão ou outra, foram extraídos órgãos dos cadáveres, especialmente olhos e rins. Houve relatórios demais de pessoas fidedignas para pensar que não estava ocorrendo nada. Se disparam em alguém na cabeça e o trazem de volta para casa em uma bolsa de plástico sem órgãos internos, o que as pessoas pensarão?”4.

Morte de um escocês em estranhas circunstâncias

Em 1998, um escocês chamado Alisdair Sinclair morreu em circunstâncias duvidosas enquanto estava sob custódia israelense no aeroporto Ben Gurion.
A sua família foi informada sobre o falecimento e, de acordo com uma reportagem do J Weekly, “(…) lhes disseram que tinham três semanas para reunir uns 4.900 dólares para repatriar o corpo de Sinclair por avião. Segundo ele [o irmão de Alisdair], parece que os israelenses preferiam outra opção: enterrar Sinclair em um cemitério cristão em Israel, por uns 1.300 dólares”.
A família reuniu a duras penas o dinheiro, repatriou o cadáver e realizou uma autópsia na Universidade de Glasgow. O resultado apontou que faltavam o coração de Alisdair e um pequeno osso da garganta. Como conseqüência, a embaixada britânica apresentou uma queixa contra Israel.
A reportagem do J afirma:
“Posteriormente repatriou-se às Ilhas Britânicas sem custo algum um coração que supostamente era de Sinclair. James queria que o Instituto Forense [israelense] pagasse uma análise de DNA para confirmar que esse coração era o de seu irmão, mas o diretor do Instituto, o professor Jehuda Hiss, recusou a petição por seu custo proibitivo, estimado segundo algumas fontes em 1.500 dólares”.
Apesar de a Embaixada Britânica ter pedido reiteradamente os relatórios da polícia e do patologista israelense, as autoridades desse país não entregaram nenhum dos dois”567.

Autoridades governamentais israelenses colocam perguntas

O jornalista palestino Khalid Amayreh narra em um artigo publicado em 20 de agosto de 2009:
“Em janeiro de 2002, um ministro israelense admitiu tacitamente que podiam ter utilizado órgãos de vítimas palestinas para transplantá-los a pacientes judeus sem que as famílias das vítimas soubessem”.
“Em resposta à pergunta de um membro árabe do Knesset [parlamento israelense], o ministro Nessim Dahan afirmou que não podia negar nem confirmar que o exército havia extirpado órgãos de crianças e jovens palestinos para transplantes ou para pesquisas científicas”.
“Não poderia afirmar com segurança que não ocorreu algo desse tipo”.

Segundo Amayreh, o membro do Knesset que formulou a pergunta disse que “tinha recebido ‘provas críveis' que demonstravam que médicos israelenses do instituto forense de Abu Kabir tinham extraído órgãos vitais como o coração, os rins e o fígado de cadáveres de crianças e jovens palestinos mortos pelas mãos do exército israelense em Gaza e na Cisjordânia”8.

A máxima autoridade israelense em patologia destituída por roubo de partes de cadáveres

Durante muitos anos denunciou-se que a máxima autoridade israelense em patologia estava roubando partes de cadáveres. Em 2001, o serviço nacional israelense de notícias informou o seguinte:
“(...) Os pais do soldado Ze’ev Buzgallo, morto em acidente durante umas manobras de instrução militar nas Colinas do Golã, levantaram uma petição ante o Tribunal Superior de Justiça para solicitar a suspensão imediata do Dr. Yehuda Hiss e a interposição de punições contra ele. Hiss é diretor do Instituto Forense Abu Kabir (...). Segundo os pais, o corpo de seu filho foi utilizado para experimentos médicos sem o seu consentimento, atividades autorizadas por Hiss.”9.
Em 2002, este mesmo serviço informativo divulgou o seguinte:
“A revelação da existência de partes de cadáveres armazenadas ilegalmente no Instituto Forense de Abu Kabir moveu o parlamentar Anat Maor, presidente do Comitê de Ciências do Knesset, a exigir a suspensão imediata de seu diretor, o professor Yehuda Hiss”.
A morte de Alisdair Sinclair foi uma primeira advertência às autoridades sobre os atos criminosos de Hiss em 1998, ainda que nada tenha sido feito a respeito durante anos. The Forward assinalou:
“Em 2001, uma investigação do Ministério da Saúde israelense detectou que Hiss havia participado, durante anos, da extração, durante as autópsias, de partes de cadáveres, como pernas, ovários e testículos, sem a permissão dos familiares para vendê-las a faculdades de medicina com fins de pesquisa e formação. Foi nomeado patólogo chefe em 1988. Hiss jamais foi acusado por nenhum crime, mas em 2004 se viu obrigado a demitir-se da direção do Depósito de cadáveres do Estado, após receber queixas durante anos”10.

Colhendo rins entre as comunidades pobres

Segundo a revista Economist, entre 2001 e 2003 surgiu na África do Sul uma rede de tráfico de rins. “Os doadores eram recrutados no Brasil, Israel e Romênia, com ofertas de 5.000 a 20.000 dólares para visitar Durban e entregar um rim. Cada um dos 109 receptores, principalmente israelenses, pagou até 120.000 dólares por umas “férias com transplante”; fingiam ser parentes dos doadores e que isso não era remunerado”11.
Em 2004, uma comissão legislativa revelou o seguinte no Brasil: “Ao menos 30 brasileiros venderam rins a uma rede de tráfico de órgãos humanos para transplantes realizados na África do Sul, cuja principal fonte de financiamento provinha de Israel”.
Segundo um relatório do IPS: “Os receptores eram, sobretudo, israelenses, que recebiam reembolsos das companhias de seguros de saúde entre 70.000 e 80.000 dólares por intervenções cirúrgicas vitais realizadas no estrangeiro”.
O IPS indica:
Os brasileiros eram recrutados nos bairros mais pobres e recebiam 10.000 dólares por rim, “mas ao aumentar a ‘oferta’, os preços baixaram até os 3.000 dólares”. A rede de tráfico foi organizada por um ex-policial israelense, o qual se defendia dizendo que “não estava cometendo nenhum delito, dado que o governo de seu país considerava legal a operação”.
A embaixada israelense emitiu uma declaração na qual negava que seu governo estivesse implicado no comércio ilegal de órgãos humanos, mas reconhecia que seus cidadãos, em casos de emergência, podiam submeter-se a transplantes de órgãos em outros países “de maneira legal, cumprindo as normas internacionais”, e com o respaldo econômico de seu seguro médico.
No entanto, segundo o IPS, o presidente da comissão qualificou a postura israelense “como no mínimo ‘contrária à ética’, e acrescentou que a rede de tráfico só podia desenvolver suas operações em larga escala se existisse uma importante fonte de financiamento, como o sistema de saúde israelense”. Além disso, afirmou que os recursos que o sistema de saúde israelense proporcionava “eram um fator determinante” que permitia o funcionamento da rede12.

O diretor de um hospital de Tel Aviv fomenta o tráfico de órgãos

Continua o informe do IPS:
“Nancy Scheper-Hughes, diretora do projeto Organs Watch da Universidade da Califórnia em Berkeley, testemunhou ante a comissão legislativa de Pernambuco para declarar que a rede internacional de tráfico de órgãos humanos havia começado há uns doze anos atrás, nas instâncias de Zacki Shapira, ex-diretor de um hospital em Tel Aviv.
“Shapira realizou mais de 300 transplantes de rim, em algumas ocasiões acompanhando seus pacientes em outros países, como a Turquia. Os receptores são muito endinheirados ou possuem uma boa cobertura de seguro de saúde, e os “doadores” são pessoas muito pobres do Leste Europeu, Filipinas ou outros países em desenvolvimento, disse Scheper-Hughes, especialista em antropologia médica”.


Em 2007, o jornal israelense Ha’aretz publicou que dois homens confessaram ter persuadido “árabes da Galiléia e do centro de Israel que tivessem problemas de desenvolvimento ou doenças mentais para que aceitassem doar um rim em troca de dinheiro”. Posteriormente, negavam pagá-los.
O jornal revelava que ambos os homens formavam parte de uma rede criminosa na qual estava envolvido um cirurgião israelense. Segundo o auto de processamento, o cirurgião vendeu os rins obtidos por uma cifra entre 125.000 e 135.000 dólares13.
Anteriormente, nesse mesmo ano, outro jornal israelense, o Jerusalem Post, informava a detenção de dez membros de uma rede de traficantes de órgãos israelenses dirigida a ucranianos14.

Em outra notícia que veio a tona em 2007, o Jerusalem Post ecoava o seguinte: “o professor Zacki Shapira, um dos principais cirurgiões de transplantes do país, foi detido quinta-feira, na Turquia, como suspeito de participar de uma rede de tráfico de órgãos”. Segundo o jornal, os transplantes eram acertados na Turquia e realizados em hospitais privados de Istambul.


O tráfico de órgãos israelense chegou aos EUA?

Em julho deste ano, inclusive os meios de comunicação norte-americanos informaram sobre a captura de Levy Izhak Rosenbaum, do Brooklyn, detido recentemente por agentes federais em uma grande operação policial contra a corrupção em Nova Jersey na qual estavam envolvidos prefeitos, funcionários governamentais e destacados rabinos. Boström abre seu artigo com este incidente15.
Segundo a denúncia federal, Rosenbaum, que tem estreitos laços com Israel, declarou haver estado implicado na venda ilegal de rins durante 10 anos. Um advogado norte-americano explicou: "Seu negócio era persuadir pessoas vulneráveis para que cedessem um rim por 10.000 dólares, que depois ele negociava e vendia por 160.000"16.

Este é, supostamente, o primeiro caso de tráfico internacional de órgãos nos EUA.

A antropóloga da Universidade da Califórnia e especialista em comércio de órgãos, Nancy Scheper-Hughes, que informou ao FBI sobre Rosenbaum há 7 anos, disse que havia escutado informações segundo as quais ele tinha ameaçado doadores na base da pistola para assegurar-se que cumpririam o acordado em “doar” seus órgãos17.


Os problemas de Israel com os doadores de órgãos

Israel possui um número extraordinariamente baixo de doadores voluntários. Segundo a agência de notícias israelense Ynet, “a porcentagem de doações de órgãos entre os judeus é a mais baixa de todos os grupos étnicos (...) Nos países ocidentais, cerca de 30% da população tem carteira de doação de órgãos. No entanto, em Israel, só 4% da população tem este tipo de carteiras18.

“Segundo as estatísticas do site do Ministério da Saúde, em 2001 morreram 88 israelenses esperando um transplante por falta de doadores de órgãos. Nesse mesmo ano, 180 pessoas se encontravam em coma irreversível e seus órgãos podiam ter sido utilizados para transplantes, mas somente os familiares de 80 deles aceitaram doar seus órgãos”.
Ynet assinala que a baixa cifra de doadores se deve a “motivos religiosos”. Em 2006, houve uma grande polêmica quando um hospital israelense conhecido pela sua observância da lei judia levou a cabo uma operação de transplante com um doador israelense. Na semana anterior “havia ocorrido um incidente similar, mas como o paciente não era judeu, passou despercebido”19 20.
O artigo sueco informa que Israel recebeu reiteradas críticas pelo seu modo antiético de abordar a questão dos órgãos e dos transplantes. A França estava entre os países que deixaram de colaborar neste âmbito com Israel na década de 1990. O Jerusalem Post escreveu: “Espera-se que o resto dos países europeus siga em breve o exemplo da França”.

“A metade dos rins transplantados para israelenses desde princípios desta década foram trazidos ilegalmente da Turquia, Europa Oriental e América Latina. As autoridades de saúde israelenses têm pleno conhecimento deste negócio, mas não fazem nada para detê-lo. Em uma conferência celebrada em 2003 ficou demonstrado que Israel era o único país ocidental que contava com uma classe médica que não condenava o comércio ilegal de órgãos. Tampouco toma medidas legais contra os médicos que participam deste negócio ilícito; pelo contrário, na maioria dos transplantes ilegais estão implicados responsáveis médicos de grandes hospitais de Israel, segundo Dagens Nyheter (5 de dezembro de 2003)”.


Para cobrir esta necessidade, o ex Primeiro-Ministro Ehud Olmert, então ministro da saúde de Israel, organizou uma grande campanha de doações no verão de 1992, mas ainda que o número de doadores houvesse subido vertiginosamente, as necessidades eram ainda muito superiores à oferta.

Aumentam os desaparecimentos de palestinos

Boström, que já havia tratado deste tema em 2001 no seu livro Inshallah21, afirma no seu recente artigo:

“Conforme ia se desenvolvendo a campanha, começaram a desaparecer jovens palestinos em povos da Cisjordânia e de Gaza. Soldados israelenses os devolviam mortos, depois de cinco dias, com o corpo aberto”.

“Falar dos cadáveres aterrorizava a população dos territórios ocupados. Havia rumores de um drástico aumento de jovens que desapareciam, com os conseguintes funerais noturnos de corpos autopsiados”.


“Eu estava nessa zona por aquela época, trabalhando em um livro. Em várias ocasiões o pessoal da ONU se dirigiu a mim preocupado pelos feitos. As pessoas que se puseram em contato comigo me disseram que sem dúvida nenhuma existia roubo de órgãos, mas que não era permitido fazer nada a respeito. Depois viajei àquela zona por encargo de uma rede de emissoras e entrevistei um grande número de famílias palestinas da Cisjordânia e de Gaza, reunindo-me com pais que contavam como se tinha despojado seus filhos de seus órgãos antes de ser assassinados”.

Descreve concretamente o caso de Bilal Ahmed Ghanem, de 19 anos de idade, que foi baleado pelas forças israelenses que invadiram seu povo.
“O primeiro disparo acertou o seu peito. Segundo os aldeões que presenciaram o incidente, a seguir dispararam uma bala em cada perna. Depois, dois soldados desceram correndo da oficina de carpintaria e dispararam uma vez no estômago de Bilal. Finalmente, foi agarrado pelos pés e arrastado para cima pelos vinte degraus de pedra da carpintaria (…). Os soldados israelenses carregaram Bilal, agonizante, em um jipe e o levaram aos arredores do povo, onde esperava um helicóptero militar. O rapaz foi levado a um lugar desconhecido para sua família”.

Após cinco dias, o trouxeram de volta, “morto e envolvido de cima a baixo em tela verde de hospital”. Boström informa que ao descer o cadáver à tumba, seu peito ficou descoberto e os presentes puderam ver que estava suturado desde o estômago até a cabeça. Segundo Boström, não era a primeira vez que aquela gente via algo semelhante.

“As famílias da Cisjordânia e de Gaza acreditavam saber exatamente o que tinha acontecido: “Usam nossos filhos como doadores forçados de órgãos”, me disseram parentes de Khaled em Nablús, assim como a mãe de Raspem em Jenin, e os tios de Machmod e Nafes em Gaza; todos tinham desaparecido durante vários dias para ser devolvidos durante a noite, mortos e autopsiados”.


Por que autópsias?
Boström reflete as dúvidas que as famílias formulam:

“Por que ficam com os cadáveres por até cinco dias e só depois nos deixam enterrá-los? O que ocorre com os corpos durante esse período? Por que levam a cabo as autópsias sem o nosso consentimento, quando a causa da morte é óbvia? Por que devolvem os corpos durante a noite? Por que o fazem com escolta militar? Por que cercam a zona durante o funeral? Por que cortam a eletricidade?”
A resposta de Israel foi que a autópsia é praticada a todos os palestinos mortos como procedimento de rotina. No entanto, Boström aponta que dos 133 palestinos que foram assassinados naquele ano, apenas 69 receberam autópsia.

Continua: “Sabemos que Israel tem uma grande necessidade de órgãos, que existe um amplo comércio ilegal de órgãos que funciona há muitos anos, que as autoridades são conscientes disso e que estão envolvidos médicos que ocupam postos diretivos nos grandes hospitais, assim como funcionários de diversos níveis. Também sabemos que desapareceram jovens palestinos e que os devolvem após cinco dias durante a noite, com grande caráter secreto e costurados após sofrer um corte do abdômen até o queixo”.
“Chegou o momento de esclarecer este macabro negócio, de projetar luz sobre o ocorrido agora e no passado nos territórios ocupados desde que começou a Intifada”22.

A nova “calúnia de sangue”?

Ao revisar todas as reações que suscitou a reportagem de Boström, chama à atenção a quantidade de acusações que incidem que este artigo é uma nova versão da antiga “calúnia de sangue” anti-semita. Dadas as circunstâncias, convém examinar um livro publicado em 2007 por um destacado especialista israelense em história medieval judia e no que lhe ocorreu.


O autor é o professor de Bar-Ilan (e rabino) Ariel Toaff, filho do antigo rabino chefe de Roma, líder religioso tão famoso que um jornalista israelense escreveu que o pai de Toaff “está para a judiaria italiana o que a Torre Eiffel está para Paris”. O próprio Ariel Toaff é considerado como “um dos maiores especialistas no seu campo”23 24.

Em fevereiro de 2007, os meios de comunicação israelenses e italianos polemizaram (ainda que a maioria dos norte-americanos tenha omitido) com a notícia de que o professor Toaff tinha escrito um livro titulado “Pasque di sangue” (“Páscoas de sangue”)25 que continha provas que “havia um fundamento objetivo em algumas das calúnias de sangue medievais contra os judeus”.
A partir dos dados compilados ao longo de 35 anos de pesquisa, Toaff conclui que houve pelo menos alguns incidentes reais, possivelmente bastantes.

Toaff afirmou em uma entrevista para um jornal da Itália (país onde se publicou o livro):

“Minha investigação mostra que, na Idade Média, um grupo de fundamentalistas judeus não respeitou a proibição bíblica e usaram sangue para realizar curas. Foi somente um grupo que pertencia às comunidades que sofreram as maiores perseguições durante as Cruzadas. Desse trauma surgiu uma ânsia de vingança que, em alguns casos, levou a certas respostas, entre elas os assassinatos rituais de crianças cristãs”26.

O professor Toaff foi atacado imediatamente de todos os ângulos, e inclusive recebeu pressões orquestradas pelo presidente da Liga Anti-Difamação, Abe Foxman, mas Toaff, respaldado por seus 35 anos de pesquisa, declarou:
“Não vou renunciar a minha devoção pela verdade e pela liberdade acadêmica, mesmo que o mundo me crucifique… Não se deve temer dizer a verdade”.


No entanto, pouco depois, submetido à uma implacável pressão pública e privada, teve que submeter-se, retirar seu livro e prometer que entregaria todos os benefícios obtidos (o livro tinha voado das prateleiras das livrarias italianas) à Liga Anti-Difamação de Foxman. Um ano depois publicou uma edição revisada”27.


A experiência de Donald Boström parece ser uma repetição do que o professor Toaff padeceu: calúnias, insultos e difamações. Boström recebeu, além disso, ameaças de morte, experiência pela qual talvez tenha passado também o professor Toaff.

Se Israel fosse inocente das acusações de roubo de órgãos, ou se sua culpabilidade fosse consideravelmente menor do que Boström e outros sugerem, deveria agradecer a abertura de pesquisas imparciais que levantassem dúvidas sobre sua culpabilidade. No entanto, o governo e seus defensores estão tratando de suprimir todo debate e esmagam quem consideram uma ameaça por suas perguntas e conclusões. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, mais que responder às chamadas para que se abra uma investigação, exige que o governo da Suécia abandone o seu compromisso com a liberdade de imprensa e condene o artigo. O escritório de imprensa israelense, aparentemente como represália e para impedir novas investigações, está rejeitando dar credenciais de imprensa aos repórteres do jornal em questão.
Da mesma forma que no caso do violento ataque a Jenin, do ataque ao USS Liberty, do massacre de Gaza, do esmagamento de Rachel Corrie, da tortura de cidadãos norte-americanos e de uma multidão de outros exemplos, Israel está empregando seus consideráveis recursos no mundo inteiro para interferir no processo de investigação.
Custa crer que não tenha nada a ocultar.

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